Cultura Baiana
A Bahia
é uma terra de cultura sofisticada, entre as mais tradicionais e ricas da
América. Historicamente, as raízes da nação brasileira estão na Bahia. O Estado tem
sido um celeiro de mentes brilhantes, cientistas, engenheiros, escritores,
poetas, músicos e artistas.
O renomado geógrafo francês Élisée Reclus, que esteve no
Brasil, em 1893, afirmou em sua Nouvelle Géographie Universelle, que os
baianos distinguem-se, entre os brasileiros, por seu garbo, eloquência e sempre
têm uma participação considerável no governo do País.
Em 1878, o escritor carioca França Júnior, patrono da Cadeira
n. 12 da ABL, citou em sua obra que a Bahia era a
Atenas
Brasileira.
A Bahia abrigou os primeiros povoados brasileiros com
europeus, em Porto Seguro (1500) e Caravelas (1503). Abrigou as
primeiras missas
e a
primeira igreja.
Por volta de 1509, o patriarca da Nação Brasileira,
Caramuru, cavaleiro
da Casa Real, naufragou no Rio Vermelho. Em 1528, ele se casou, na França, com a
princesa tupinambá
Paraguaçu, o primeiro brasileiro documentado. Seus filhos casaram-se com nobres portugueses. Grande parte
da aristocracia baiana e brasileira era descendente dos tupinambás baianos.
Na Bahia começou a educação formal do Brasil, com a chegada
dos jesuítas e a fundação de Salvador, em 1549. O
Colégio dos Jesuítas da Bahia, fundado por Manoel da Nóbrega, era a principal
instituição de ensino da América Lusitana, até meados do século 18. Foi a
primeira
universidade do Brasil.
Os africanos chegaram como escravos dos século 16 ao 19 e
foram um importante elemento da matriz cultural baiana.
Nos séculos 19 e 20 chegaram os imigrantes europeus e
asiáticos, principalmente ingleses, portugueses, galegos, alemães, suíços,
italianos, japoneses, sírios e libaneses. Eles contribuíram para enriquecer a
cultura local.
A religiosidade é um vetor marcante na cultura baiana. Até
o século 19, os baianos eram essencialmente católicos, com um sincretismo de
religiões africanas e indígenas. Todo baiano tinha um santo, todo santo tinha seu dia e, no
dia de cada santo, tinha festa. Muitos baianos ainda vivem essa tradição.
Na música, os baianos primam. Na Bahia nasceu o
samba, o lundu,
o axé, o trio
elétrico, a
guitarra baiana e a Timbalada de Carlinhos Brown. Também a
bossa nova
foi criada pelo baiano João Gilberto. Outro baiano, Raul Seixas, foi único em
seu estilo de rock. O
Carnaval de
Salvador transformou-se na maior festa do Planeta. Os
guitarristas baianos, como Armadinho, Pepeu Gomes e Durval Lélis estão entre os
melhores do mundo.
O compositor Xisto Bahia foi o autor da primeira música
gravada comercialmente no Brasil, Isto é Bom, em 1902. O baiano Manuel
Pedro dos Santos, o intérprete, foi também o mesmo que gravou o primeiro samba,
Pelo Telephone, em 1916. Xisto Bahia foi também um dos mais importantes
teatrólogos do Brasil, cantor e ator.
A
Orquestra Juvenil da Bahia apresenta-se regularmente em muitos dos
maiores palcos do mundo. É o melhor exemplo nacional em formação de jovens
músicos. Foi fundada pelo maestro e virtuoso pianista baiano Ricardo Castro, o
primeiro brasileiro a receber o Honorary Membership of the Royal Philarmonic
Society.
A
musicalidade também se expressa na arte marcial baiana: a
capoeira, que usa
o ritmo do corpo para transformar os pés em armas mortais. A vocação dos baianos
para as artes marciais continuam principalmente no
boxe,
MMA e
karatê. Essa
tradição também tem raízes no
maculelê,
uma dança ritual baiana, com origens no século 18, que simula uma luta com
bastões.
Os baianos foram pioneiros no Brasil nas ciências (Frei
Vicente do Salvador). Na engenharia (José
Antonio Caldas). Na medicina, com a primeira faculdade e com os geniais
cientistas
Pirajá da Silva e Elsimar
Coutinho. Juliano Moreira foi um dos pioneiros da psiquiatria. Alexandre Rodrigues Ferreira foi o primeiro grande naturalista
brasileiro.
Nas ciências
jurídicas, Ruy Barbosa foi um expoente. Na Língua Portuguesa,
Carneiro Ribeiro e
Francisco de Castro. Nas ciências sociais, o rebelde
Milton Santos. Na
História, Rocha Pita,
Sacramento Blake,
Pedro
Calmon, Cezar Zama,
Afrânio
Peixoto
e Luís
Henrique Dias Tavares. Na Pedagogia, Anísio Teixeira e Barão de Macahubas.
Na Astronomia, Manoel Pereira Reis. Na Economia,
Visconde de Cairu. Na Filosofia, Ferrão Moniz de Aragão. Na Estatística,
Teixeira de Freitas. Na Arquitetura, Diógenes Rebouças. Na Medicina Legal, Oscar
Freire. Segue-se muitos outros.
O empreendedorismo baiano ergueu o
Elevador
Lacerda, um marco da engenharia mundial. Os engenheiros baianos
construíram portos, pontes e ferrovias
históricas, com André Rebouças, Antônio Rebouças, Theodoro Sampaio,
Miguel
Argollo e outros. A Bahia foi pioneira na construção naval na América
Lusitana. O
Estado também gerou duas
das maiores construtoras do Planeta: a OAS e a Odebrecht.
Até boa parte do século 19, Salvador era o
maior porto
do hemisfério sul e hoje abriga a mais antiga associação patronal do
Brasil: a
Associação Comercial da Bahia.
Salvador tornou-se, em
1857, a primeira cidade do Brasil a ter distribuição de água potável encanada. O
ousado sistema de águas do Queimado, com bombeamento à vapor, foi outro marco da
engenharia nacional. Incluiu 22
belos chafarizes, como o do
Terreiro de
Jesus.
O
monumento
ao Dois de Julho era o mais alto da América do Sul, quando inaugurado em
1895, ainda é um dos mais belos do Continente. Este seguiu-se ao magnífico
Monumento
Riachuelo, concebido pelo artista baiano João F. Lopes Rodrigues.
Na poesia, a Bahia gerou o primeiro grande poeta brasileiro:
Gregório de Mattos, e o maior de todos: Castro Alves. Na literatura, João Ubaldo
Ribeiro e Jorge Amado, que não ganhou um Nobel por azar
do prêmio, que ficará devendo isso à cultura mundial.
No teatro, Salvador
construiu a primeira grande casa de espetáculos do País: o
Theatro São
João (1812). O baiano
Manoel Botelho de Oliveyra foi o primeiro autor
brasileiro a ter um livro publicado (1663). O baiano Dias Gomes foi um dos autores mais criativos nessa arte. No
cinema, o revolucionário Glauber Rocha.
Nas artes plásticas, os baianos destacaram-se inicialmente com
seus grandes mestres da arte sacra, desde o século 17. O século 20 conheceu
Mario Cravo, Calasans Neto, Nide Bacelar, Tati Moreno e outros.
A gastronomia baiana é especial, com contribuições indígena,
africana e europeia, tem um imenso leque de pratos típicos.
O espírito baiano de justiça transformou o Recôncavo no
mais importante palco da conquista da Independência do Brasil. O espírito
solidário gerou Anna Nery,
Irmã Dulce e Mãe Menininha do Gantois.
Com mais de 14 milhões de habitantes, a Bahia é
multicultural, sempre criando novas referências.
Pelo
baiano Jonildo Bacelar
|
Cultura na Bahia
Carlos Ott,
baianista
Iansã, por Nide Bacelar, uma
importante entidade do sincretismo religioso do Candomblé.
Os baianos segundo o sociólogo pernambucano Gilberto FreyreTriste do brasileiro que não tenha dentro de si algumas
coisas de baiano. E não só de urbanidade baiana; não só de polidez baiana; não
só de gentileza baiana; não só de civilidade baiana; não só do bom gosto baiano;
não só de religiosidade baiana; não só de ternura baiana; não só de civismo
baiano; não só de inteligência baiana; mas também alguma coisa de malícia, de
humor de gaiatice compensadora dos excessos de dignidade, de solenidade e da
própria elegância.Citado em Bahia e Baianos, 1990.
Os Filhos de Gandhy na Barra. O
Carnaval de
Salvador transformou-se na maior festa da Terra e uma das principais
manifestações da cultura baiana.


Dorival Caymmi, em Itapuã (foto Claus C. Meyer, 1984).
Caymmi traduziu, como poucos, a cultura baiana, em inesquecíveis versos
musicais.
Evento musical no Festival Artes do Sagrado, na
Igreja
de São Francisco, em Salvador. O magnífico interior barroco dessa
Igreja, do século 18, é uma memória viva da religiosidade baiana. A Igreja
abriga obras inestimáveis de grandes mestres baianos da arte sacra.

A baiana do acarajé é um dos símbolos
da sofisticada e diversificada culinária baiana. O acarajé e o vatapá estão
entre as iguarias mais deliciosas do mundo. O ofício da baiana do acarajé é um
bem cultural imaterial registrado pelo Iphan.
Existem cerca de cinco mil baianas do acarajé em Salvador, uma profissão
regulamentada. A Praça da Sé abriga o Memorial dedicado a elas.


O baiano Anísio Teixeira, foi um dos mais importantes teóricos da educação no
Brasil. Acreditava que a educação era a base da democracia, seu fundamento. Em
Salvador, criou a Escola Parque, a primeira experiência no País de educação
integral.
Cultura Baiana
Santa Cecília em pintura barroca do artista baiano Francisco da Silva Romão
(1834-1895), acervo do Museu de Arte da Bahia. A Bahia foi prolífica em pintores
e escultores da arte sacra, nos séculos 18 e 19.





Rita Barreto
C. Knepper
Joao Ramos